Em três dias e três noites, o fotógrafo nova-iorquino Bert Stern tirou mais de duas mil fotografias à diva do cinema, Marylin Monroe. Numa suite, num hotel de luxo em Los Angeles, a actriz cedeu-lhe o privilégio de ser o último para quem pousava. Seis semanas depois era encontrada sem vida e estas imagens, captadas há quase cinquenta anos, continuam a dar a volta ao mundo em inúmeras exposições.
A suite 261 do Hotel Bel-Air, em Los Angeles, e três garrafas de champanhe Dom Pérignon de 1953 foram as duas exigências que a estrela de cinema Marylin Monroe impôs a Bert Stern para se deixar fotografar.
Mal imaginava o nova-iorquino que ao aceitar estas condições estaria não só frente-a-frente com a mulher que tanto ambicionava conhecer, como seria o último a fotografá-la. Em 1962 e com apenas 36 anos de idade, Norma Jean Baker( o seu verdadeiro nome) já tinha deixado de lado a imagem que conquistara tantos admiradores.
Ou talvez não. Em “Os Inadaptados” (1961), de John Huston, a personagem da actriz curiosamente tem uma fala em que diz: “Todos pensam que sou alegre”. E, na vida real, era mesmo isso que acontecia. Todos idealizavam uma Marylin feliz, sem dramas nem problemas, porque afinal isso só acontecia ao comum dos mortais. Ela era uma diva, uma das mulheres mais bonitas do planeta, mas não era uma mulher real aos olhos do público.
Bern Stern não era excepção. O fotógrafo, hoje com 82 anos, era conhecido pelos seus trabalhos na moda e em publicidade, tendo também sido o autor de algumas cenas fotográficas do filme “Lolita”, de Stanley Kubrick. E queria conhecer Marylin. Queria despi-la e registar esses momentos. Durante três dias, foram tiradas mais de duas mil imagens. Sessenta estão agora expostas no Centro Cultural de Cascais (Fundação D.Luis I), depois de terem passado por São Paulo, Londres, Paris e Seul.
Voltando à sessão. Com cinco horas de atraso, a actriz chega finalmente ao hotel. E, pouco a pouco, Bern vai conseguindo relaxá-la - ele e os copos de champanhe - e disparando os flashes. Já sem qualquer roupa, Marylin deixa-se fotografar em diversas poses por entre os lençóis e o chão da suite. Até que, a dada altura, acaba por adormecer. As garrafas de Dom Pérignon iam ficando cada vez mais vazias.
Mesmo assim, a sessão do fotógrafo não abala a eterna imagem de Marylin. Tinha sido operada ao abdómen, tinham-lhe tirado a vesícula, mas não quis disfarçar a cicatriz, como Bern lhe tinha sugerido. Queria mostrar “a sua imperfeição”. Esse seu lado, que muitos se recusavam a aceitar. Apenas seis semanas depois, foi encontrada morta, nua (como na última sessão), pela enfermeira pessoal. Os testes confirmaram que estava sob o efeito de drogas (um dos problemas com os quais se debatia no dia-a-dia), mas ainda persistem as teorias de uma possível conspiração da CIA, pela sua ligação aos Kennedy.
Publicadas ainda em 1962 na revista Vogue, as fotografias só viriam novamente a ser vistas no livro “The Last Sitting”, em 1982. Marylin Monroe, que (aparentemente) tinha tudo para ser feliz, afinal não o era. Uma imagem de perfeição que lhe atribuíram, uma lenda que criaram, levando-a à depressão e ao caos pessoal. Um retrato que não condiz com a simplicidade e ingenuidade das suas imagens. Talvez seja por isso que a realidade ficava atrás dos bastidores.
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