Intensidades
cessam em ferida as nossas bocas
as nossas bocas evaporadas luzem
arrastando os despojos do amor
descarnado na névoa do tule
da tarde teu corpo como um
deserto treme pensativo agreste
profanação de sombras seculares
onde desabrido geme inútil
o meu corpo ignorado
cujos olhos sepultam flores silvestres
no vasto caminho da alma dos outros...
o vento sublime pelas nossas
bocas evaporadas vai subindo
graciosa carícia de água
que adormece o consolo
somos felizes somos loucos!
onde ondeia a força que nos separa?
no compasso astral!
canto agora ensandecido a tua boca
regato do meu ser bem firme
sopro húmido da aurora
é deus o novo outrora
que perfuma a lama da eternidade
ilusão da maré destas bocas revoltadas
exaustas que arrebatam o pecado
nunca amaram as bocas geladas
que se afastam evaporadas no
ocaso primaveril da luz do teu peito
redondo onde antes entrara
escuro o último raio de sol
quando mortas repetirem este gesto
as nossas bocas na lonjura
intemporal gigante encostadas
às rochas da fome terna onde
aprendemos a sentir a extensão
diluída do que fomos
os lábios que te peço lembram
o arder do fogo que curioso
adormece na vigília da noite
com a amarga ânsia roubada
aos beijos inextinguíveis
das bocas de néctar evaporadas
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