domingo, 21 de outubro de 2012

"Fazer amor é coisa séria demais...

"Fazer amor é coisa séria demais...

 

Não basta um corpo e outro corpo, misturados num desejo insosso, desses que dão feito fome trivial, nascida da gula descuidada, aplacada sem zelo, sem composturas, sem respeito, atendendo exclusivamente a voracidade do apetite. Fazer amor é percorrer as trilhas da alma, uma alma tateando a outra, desvendando véus, descobrindo profundezas, penetrando nos escondidos, sem pressa, com delicadeza... Porque alma tem tessitura de cristal, deve ser tocada nas levezas, apalpada com amaciamentos... Até que o corpo descubra cada uma de suas funções. Quando a descoberta acontece, é que o ato de amor começa. As mãos deslizam sobre as curvas, como se tocando nuvens, a boca vai acordando e retirando gostos, provando os sabores, bebendo a seiva que jorra das nascentes escorrendo em dons, é o côncavo e o convexo em amorosa conjunção. Fazer amor é ressurreição. É nascer de novo: no abraço que aperta sem sufocamentos, no beijo que cala a sede gritante, na escalada dos degraus celestiais que levam ao gozo. Vale chorar, vale gemer, vale gritar... porque aí já se chegou ao paraíso e qualquer som há de sair melódico e afinado, seja grave, agudo, pianinho... Há de ser sempre o acorde faltante quando amantes iniciam o milagre do encontro. Corpos se ajustaram, almas se matizaram... Fez-se o êxtase! É o instante do amor, da paz... É a escritura da serenidade, sabedoria! E os amantes em assunção, pisam eternidades."

Texto atribuído a um Frei do Colégio Santo Agostinho*


*Arte de Nerdrum Odd* - pintor norueguês...

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