Amálgamas imagéticas: O Facebook pelos olhos de Phillip Maisel
Imagens, imagens, imagens. O olhar de cada um de nós é bombardeado, sem cessar, pela panóplia de imagens com que o quotidiano é construído. Seja em publicidade pela rua, na televisão ou no computador, temos acesso a tantas fotografias e imagens que perdemos a capacidade de as processar na íntegra. Phillip Maisel, fotógrafo conceptual, entrou nos álbuns fotográficos do Facebook e apresenta-nos uma perspectiva diferente daquela a que estamos habituados…
Se abrir um qualquer álbum de imagens do Facebook e passar incessantemente as fotografias à sua frente, o que obtém? Talvez um borrão de momentos especiais e outros quotidianos. Um borrão de pessoas, locais e memórias. Esta foi a experiência feita pelo fotógrafo conceptual Phillip Maisel que, após ver fotografias seguidas de mais e mais fotografias, ficou fascinado pela velocidade com que é possível visualizar milhares de imagens através do Facebook.
Desta conclusão resultou o trabalho fotográfico “A more open space” ("um espaço mais aberto", em português), intitulado a partir de uma citação do criador do Facebook, Mark Zuckerberg. Ao todo, vinte imagens são o efeito da sobreposição múltipla de vinte álbuns de imagens no Facebook. As imagens obtidas, sobrepostas e indefinidas, mostram-nos vidas que não são as nossas e que até já poderiam ter passado pelos nossos olhos, à velocidade de um relâmpago.
«Esta é a minha perspectiva sobre a reacção que tive a este afluxo maciço de fotos que todos vivemos hoje em dia», explica Maisel. O trabalho reflecte, à vez, o próprio processo humano de processamento das imagens com que se depara, mas também questiona as noções de privacidade e as fronteiras entre o que pertence à esfera do íntimo e o que deve ser mostrado na esfera pública.
Além de espicaçar o lado curioso e voyeur de cada um de nós, as fotografias das redes sociais, muitas vezes desprotegidas dos olhares anónimos, são a porta de entrada para mundos íntimos e familiares aos quais não pertencemos. Pelo menos antes do mundo da Internet nos ter feito entrar nestas vidas, quase de forma legítima.
O próprio Maisel reconhece que não sabe bem qual a opinião que tem sobre a privacidade e a Internet, apesar do fascínio que a questão lhe suscita. «Cada vez que encontro as fotografias de férias de um estranho no Facebook ou fotografias de um bebé colocadas por um pai que nunca conheci fico um pouco admirado de ter acesso a momentos tão íntimos e privados sem que haja um mínimo esforço da minha parte», comenta.
Para fazer este trabalho, Maisel utilizou a técnica fotográfica de longa-exposição perante um ecrã de computador onde corriam, em contínuo, fotografias de álbuns do Facebook. Cada imagem obtida tem o nome do álbum do Facebook que lhe deu origem. O artista usou os seus próprios álbuns digitais, assim como os de amigos e de perfeitos estranhos. Como inspiração, Maisel aponta o trabalho de Idris Khan e Jon Rafman que lhe fizeram pensar, respectivamente, na compressão do tempo numa só imagem e nas potencialidades da Internet como fonte de material criativo.
A mancha de diferentes fotografias e, por consequência, de diferentes vidas é também um novo olhar perante a realidade do mundo digital e das recordações efémeras. Quando parte da nossa vida é construída no ecrã do computador, o que acontece quando a máquina é desligada ou quando a conta do Facebook deixar de ser usada? Perdemos uma parte de nós?
E o que acontece ao borrão de fotografias das férias daquela tia (que não vemos pessoalmente há anos) que fizemos correr no ecrã em meros segundos? Será que as esqueceremos no meio do turbilhão contemporâneo de imagens ou ficarão guardadas, num cantinho da memória, longe de um qualquer botão “Off”?
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