(Rui Reininho)
Há um prenúncio de morte
Lá do fundo donde eu venho
Os antigos chamam-lhe reilho
Novos ricos são má sorte
É a pronúnia do Norte
Os tontos chamam-lhe torpe
Hemisfério fraco outro forte
Ai o dia não sejas triste
A bússula não sei se existe
E o plano talvez aborte
Nem guerra, bairro ou corte
É a pronúncia do Norte
É um prenúncio de morte
Corre o rio para o mar
(Isabel Silvestre)
Não tenho barqueiro
Nem em de remar
Procuro caminhos
Novos para andar
Colheste uns ramos
Onde os pousaste
É a magia das pérolas
Das fontes secar
Corre o rio para o mar
E há um prenúncio de morte
E as teias que vidram
Nas janelas
Esperam um barco
Parecido com elas
Não tenho barqueiro
Nem em que remar
Procuro caminhos
Novos para andar
E é a pronúncia do Norte
Corre o rio para o mar
(Rui Reininho e Isabel Silvestre)
E as teias que vidram
Nas janelas
Esperam um barco
Parecido com elas
Não tenho barqueiro
Nem em que remar
Procuro caminhos
Novos para andar
É a pronúncia do Norte
Corre o rio para o mar.
Composição: Florbela Espanca / João Gil
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Á quem e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhas de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dize-lo cantando a toda a gente!
Dentro de mim
Por dentro de mim
É pena quase não poder ficar
És quente quando a luz te traz
Quase te vi amor
Quase nasci sem ti
Quase morri
Dentro de mim
Ficas dentro de mim
Por dentro de mim
Estás dentro de mim
Silêncio.Lua.Casa.Chão
És sitio onde as mãos se dão
Quase larguei a dôr
Quase perdi
Quase morri
Dentro de mim
Estás dentro de mim
Por dentro de mim
Ficas dentro de mim
Sempre só mais um homem
Mais humano
Mais um fraco..
Sempre..
Só mais um braço
Mais um corpo
Mais um grito
Sempre..
Dança em mim!
Mundo, vida e fim!
Dorme aqui
Dentro de mim..
É pena quase não poder ficar
No sítio onde as mãos se dão
Quase fugi amor
Quase não vi
Vamos embora daqui
Para dentro de mim
Largaram-me a mil metros do chão
Largaram-me porque me agarrei
Numa alucinação de vida
Que me enchia o coração
E que agora vejo perdida
Num cair que já não sei
Largaram-me a mil metros do chão
Reparo o sol que se afasta no ar
Rasgo caminho onde o vento dormia
Adormeço sentidos no meu furacão
Enquanto sol anuncia o dia
Sinto o meu corpo, desamparado, deslizar...
Perdi-te do lado errado do coração
Eras tu o meu chão...
Enquanto caía a terra rachou
E eu via a queda ainda mais funda
Ao meu lado passava tudo o que passei
Comigo a miragem que nada mudou
Do voo rasante que nem começou
Do tempo apressado que nem reparei
Sinto os meus gestos flutuar, devagar
No último segredo antes do ódio
À minha frente um filme de aves sem voz
E quando as toquei resolvi gostar
Quando as ouvi fiquei a amar
Ter tentado subir ao cimo de nós
Amei-te do lado errado do coração
Eras tu o meu chão...
Não sei ao que chamam lados do coração
Mas és tu o meu chão...
És tu o meu chão...
TORANJA
SÓ EU SEI VER O SOL NASCER
Desfaz-se o tempo em rotinas e vontades
Em projectos e verdades
Em desgostos que se alastram
Em vestígios distorcidos
De nascentes que encontramos
E é sempre quando seca que
Tudo se tem que se agarrar
Tudo o que faz fugir
E a verdade passa a estar
No fundo dum copo cheio do que se quer ser
E a beata no chão que faz os olhos arder
É a nova moda das crianças que ainda estão a aprender
Como têm que estar e andar e beber
E dançar e comer e falar e ouvir
E sentar e sorrir pra saber existir aaaahhhhhh…
Só eu sei ver o sol nascer
Só eu sei ver o sol nascer
Desfaço-me em pedaços, em retratos em…
Mentiras que trocámos e abraçámos sim
Fugimos mas voltámos
E o que presta, o que
Resta em nós…
Num fim de festa onde…
Todos sabemos quem somos
Ou quem não se quer lembrar
Ou quem precisa de estar
Perdido noutro sonho
A mesma noite, o mesmo copo,
O mesmo corpo, a mesma sede que não sabe secar
Onde se encontra sem se procurar
Onde se dança o que estiver a tocar
Muito fumo muito fogo muito escuro
Quando somos o que queremos
Quase somos o que queremos
Quase fomos o que queremos aaaaahhhhhhhh…
Só eu sei ver o sol nascer
Só eu sei ver o sol nascer
Quase fomos o que queremos
Quase somos o que queremos
Quase fomos o que queremos
Quase somos o…
aaaAAAHHH
Só eu sei ver o sol nascer
Só eu sei ver o sol nascer
Só eu sei ver o sol nascer
Só eu sei ver o sol nascer
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