domingo, 27 de fevereiro de 2011

Blaxploitation

Blaxploitation, a força dos negros

 

O cinema norte-americano demorou para dar espaços aos negros, mas quando isso aconteceu, surgiu uma explosão de criatividade.

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O “cinema negro”, por excelência, sempre foi marginalizado. Em especial nos Estados Unidos, onde somente em 2002 uma atriz e um ator negro conseguiram abiscoitar os melhores prêmios na principal cerimônia do país, o Oscar. Se levarmos em conta ainda o cinema europeu, o panorama é mais desolador. Nenhum diretor de renome e raríssimos atores. No Brasil, apesar do renascimento do cinema, não há nenhum diretor negro, ainda que bons atores tenham surgido, como Lázaro Ramos. O cinema africano, apesar de existir, raramente atinge um público abrangente, sendo relegado aos festivais hipermega-alternativos para cinéfilos convictos e dependentes. Ainda que nomes importantes como Abderrahmane Sissako ganhem financiamento europeu para produzir seus filmes e apresentem um talento indiscutível, é muito pouco para o continente africano.

Para se conseguir alguma consistência do cinema negro, não resta dúvida que devemos olhar para a produção de Hollywood, que desde a década de 70 percebeu que o filão era muito bom e importante para se desprezar. Se em The jazz singer, de 1927, um ator branco pintou o rosto de negro, na década de 60 Sidney Poitier tornou-se um ícone de respeito, com grandes atuações em fitas como Advinhe quem vem para jantar? e Ao mestre, com carinho, ambos de 1967, Poitier abriu portas. Com a liberdade civil ganhando cada vez mais força nos EUA, nada mais natural que a década de 70 pudesse ser o cenário ideal para que os negros fizessem uma grande invasão.

Junto com essa conquista nos cinemas, na música, os negros ganhavam cada vez mais espaço com Funkadelic, the Impressions, Sly`s and Family Stone e até mesmo James Brown, que produziam músicas cheias de mensagens políticas e sociais, junto com todo o ritmo. As paradas de sucesso provavam que havia demanda para “música com mensagem”. Natural que os negros buscassem no cinema uma resposta similar.

Foi o que aconteceu. Ainda que conhecido como movimento “blaxploitation”, a indústria cinematográfica se deu conta de que poderia faturar bastante fazendo filmes dirigidos à comunidade negra e também para apreciadores de cinema. Surgiu uma estética interessantíssima, que hoje ecoa em trabalhos de diretores como Quentin Tarantino e até mesmo no modernete David Fincher.

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Cores berrantes, perseguições incansáveis, humor ralo e chulo, heróis de caráter duvidoso, violência, violência e mais um pouco de violência era as marcas registradas do blaxploitation. Com todo este jeitão rebelde e tosco por natureza, o cinema negro norte-americano começava a sair do limbo para ganhar força de movimento cultural. A excelente Pam Grier marcou época com suas personagens-heroínas sexys sempre de batom rosa e calças justíssimas. Basta ver filmes como The mack, Foxy Brown ou Superfly para render homenagens à Pam. Beyoncé Knowles prestou seu tributo ao atuar como Foxxy Cleopatra em Austin Powers e o homem do membro de ouro. Para quem nunca viu a atuação de Pam Grier na década de 70, a personagem de Beyoncé mostra muito bem como era.

Além de Grier, Ron O`Neil, Richard Pryor, Max Julien, Antonio Fargas e Melvin Van Peebles eram os caras. Apesar de toda a evidente apelação com excesso de violência e sexo, os filmes marcaram um jeito de fazer cinema de baixo orçamento e voltado somente ao entretenimento banal. O durão Richard Roundtree encarnando Shaft faz a prova final do gênero. Mas mais importante do que tudo isso, foi que o blaxploitation abriu portas para gente como o genial Spike Lee e seus filmes protesto da década de 80. Denzel Washington, Jada Pinkett-Smith, Halle Barry e Mario Van Peebles, todos, sem dúvida alguma, devem agradecer o estilo da década de 70 em suas maneiras de atuar. Também é nítido a influência do blaxploitation na música hip-hop da atualidade. Todos os elementos estão ali, basta ver um clipe de qualquer rapper.

Para conhecer um pouco mais do blaxploitation, vale a pena dar uma fuçada nas locadoras atrás dos filmes do gênero. Segue ai uma listinha que você pode usar como referência para auxiliar sua busca. Não se preocupe muito com o enredo, basicamente ou são comédias grosseiras ou são policiais violentíssimos. Ou, às vezes, são os dois. Talvez seja um pouco difícil encontrar no Brasil, mas nada que o site da Amazon não resolva.

Shaft, de Gordon Parks, EUA, 1971
Superfly, de Gordon Parks, EUA, 1972
Black mama, white mama, de Eddie Romero, EUA, 1972
The mack, de Michael Campus, EUA, 1973
Coffy, de Jack Hill, EUA, 1973
Foxy Brown, de Jack Hill, EUA, 1974
Cleopatra Jones and the casino of gold, de Charles Bail, EUA, 1975
Cooley high, de Michael Schultz, EUA, 1975
Friday Foster, de Arthur Marks, EUA, 1975

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