Reinterpretando a história - parte 2 - robert charroux
Vida para além da morte, universos paralelos, Deus, segredos enterrados, continentes perdidos, virgens negras. Para além de partilhar com Erich von Däniken a teoria dos antepassados astronautas, Robert Charroux é o mestre da pseudo-ciência. Mergulhe nos mundos esquecidos pela História e num "si próprio" muito maior que os limites dérmicos do seu corpo.
Robert Charroux foi, por algumas vezes e por determinados grupos e indivíduos da ciência mainstream, considerado um louco. Sabemos, porém, que “a ciência não averiguou ainda se a loucura é ou não a mais sublime das inteligências”, conforme constatou o escritor e poeta norte-americano Edgar Allan Poe.
[O presente artigo é o segundo da série “Reinterpretando a História”, seguindo-se ao artigo sobre Erich von Däniken.]
A palavra heresia provem do latim haeresis e significa “divergência em ponto de fé ou de doutrina religiosa” ou, por extensão, “blasfémia”, ou ainda, figurativamente, “opinião ou doutrina referente às ideias recebidas”. Robert Charroux (RC) considera-se um herético. Afirma que “o caminho para a verdade se faz às apalpadelas, à custa de erros sucessivos e de descobertas positivas”. Diz ainda que “no labirinto em que se perde, o investigador nunca alcança o âmago”. Critica com humildade algumas (poucas) falsas asserções encontradas nos seus livros que foram posteriormente desmistificadas. Mas aponta uma maior “falha” que, embora alheia à sua vontade, está directamente relacionada com ele: por toda a França e em outros países surgiram, espontaneamente, clubes Robert Charroux – grupos de estudantes, jovens amantes do insólito, do supranormal e do saber não conformista.
O problema reside, essencialmente, no questionamento destes jovens em liceus e universidades sobre a validade e veracidade do ensino clássico com base nos seus livros (livros dos quais ele é o autor mas que envolvem o contributo de diversos historiadores, arqueólogos, escritores, correspondentes e amigos, e a sua fiel colaboradora – Yvette Charroux). Ora, Robert Charroux deplora esta “heresia” contra o ensino clássico, fazendo entender que embora algumas das suas teses ofereçam garantias mais comprováveis, elas não passam, geralmente e quanto ao resto, de “exercícios, de jogos intelectuais, susceptíveis de aperfeiçoamento, destinados a estimularem o cérebro e, talvez, a serem algum dia confirmados”. Sendo assim, este trabalho de “aperfeiçoamento” pressupõe o conhecimento dos tratados clássicos.
Um exemplo moderno de heresia – fotografia de queima de livros de Lenin pelos nazis na Praça de Göttingen, Alemanha (Fotografia do Museu Municipal de Göttingen)
Mas qual é a relevância disto? Bom, Robert Charroux elaborou umas teses, umas teorias, que defrontam “tête-à-tête” (a níveis semelhantes) a ciência clássica nos campos da Pré-história, da História e da Religião, entre outros, ou seja, na forma como concebemos o mundo e a nossa existência. É deveras interessante e totalmente conspirador. Se for o mundo de Charroux uma verdade, então vivemos nós, há já muito tempo, numa gigantesca conspiração. E se por vezes a conspiração é apenas um pesadelo para a realidade banalizada, é, certamente e muitas vezes, o oposto. Ou seja, como podemos delimitar a distância entre a realidade e a conspiração? A realidade é por vezes um produto de conspiração e a conspiração uma realidade (pense-se – apenas como exemplo, pois teríamos inúmeras formas de mostrar isto – nas reuniões do Clube Bilderberg ou nos Iluminatti ou ainda na Maçonaria e nas façanhas edificadoras da Nova Ordem Mundial).
Grande Selo dos Estados Unidos presente na nota de um dólar, com a inscrição em latim Anuit Coeptis – Novus Ordo Seclorum, que significa: “Ele aprova o nosso empreendimento – [A] Nova Ordem dos Séculos”
Charroux morreu em 1978 com 69 anos. Trabalhou para os correios franceses até se tornar escritor de ficção científica, tendo então publicado seis obras de não-ficção baseadas em dezenas de anos de investigação em diversas áreas relacionadas com a arqueologia, a exegese, a religião, o misticismo, entre outras, a maior parte na última década da sua vida. São estas as obras relevantes para nós, para este artigo. Não podemos, no entanto, deixar passar sem assinalar, e a título de curiosidade, as tiras de banda desenhada escritas para o Mon Journal, nos finais dos anos 40, que tinham como protagonista um super-herói com poderes atómicos – o Atomas!
Charroux é o reconhecido pioneiro da teoria dos antigos astronautas, mas é importante denotar a reciprocidade de influência entre ele e Erich von Däniken, havendo, inclusive, acusação de plágio por parte da editora de Charroux, o que obrigou a editora de Däniken a colocar os livros deste na bibliografia das suas obras. Note-se ainda que ambos terão tido influência das obras “The Morning of Magicians” (“O amanhecer dos Mágicos”), de Lewis Pauwels e Jacques Bergier, e dos livros do profícuo autor britânico Raymond Drake, todos no início da década de 60. (A razão pela qual Robert Charroux não abre as hostes desta série de artigos sobre a reinterpretação histórica em prol de Däniken prende-se com o facto de que o primeiro transcende de alguma forma Däniken no campo de análise, fazendo transbordar esta para um tempo mais Presente, se considerarmos uma perspectiva linear do Tempo).
É impossível dissecar aqui as teses de Charroux. Deixo-vos, então, alguns títulos de duas das suas obras (deveras interessantes, por sinal) para que possa o leitor ter uma noção mais precisa da temática abrangida por este senhor e, eventualmente, mergulhar por si no fantástico desconhecido (note-se que estes títulos estão descontextualizados do seu conteúdo, não merecendo, por isso, julgamentos apriorísticos):
O milagre da areia de ouro; o cérebro extraterrestre; A coisa estranha provoca loucura; O mar está esquisito; O país onde o tempo deixa de correr; Os nossos antepassados não eram macacos; O Homem é um ser extraterrestre; Menires na lua; Um falo em metal desconhecido; O ocidente foi sabotado; Conheciam a charrua mas não os bois; O gerador de plasma dos faraós; A alma do Universo; O império invisível dos R+C; A Atlântida vai ressurgir; Os fantasmas de Hiroxima; A violação legítima; Deus é excomungado; A Bíblia é um romance; O sapo iniciado; Deus não é um capataz; O amor é um conceito satânico; As raparigas serão belas em 1986; Os homens são mais sábio que Deus; Jesus recusava-se a ser o Salvador; Um «hippie» chamado Jesus; Os Apóstolos: drogados; A mulher, criatura do Diabo; Jesus não estava morto; Receitas para viver muito tempo; A missa na Lua; A esquerda é obscena; Extraterrestres operam uma egípcia; Os super-homens voadores e o mistério dos golfinhos.
As palavras que é proibido pronunciar; Os hebreus são arianos puros; Moisés não escreveu a «Génese»; A História está deturpada; Há 5000 anos os deuses voavam; Uma mulher para repovoar o mundo; A evolução humana do dilúvio até à nossa época; Anti-racismo cósmico; Os mestiços modificarão a face do mundo; Extraterrestres para mulheres negras; Adão e Eva eram negros; Deus é branco; A verdade antiga é inacreditável; Proibido invocar Deus; A gruta de Rosenkreutz; Os quatro segredos R+C; O segredo das tochas eternas; Os locais mágicos onde apetece viver; Equilibrar o + e o -; A pirâmide subterrânea; Alguém no invisível; Religião = Feitiçaria; Magia negra; A maldição das focas; O deus branco que insufla; As drogas de iniciação; Os poderes fantásticos de Maria Sabina; A planta extraterrestre; O imenso medo dos americanos; Deus: dois braços, duas pernas…; O rei Crono da Atlântida; Revelações proibidas; Os Maias inventaram o futebol; Keely aguenta dez toneladas num só braço; A levitação dos santos; A vida é possível em Vénus; O mistério dos homenzinhos verdes.
“Poço da Iniciação”, no Palácio da Regaleira, em Sintra, Portugal. Todo o palácio é rodeado de luxuriantes construções enigmáticas que ocultam significados alquímicos como os usados pela Maçonaria, os Templários e Rosacruz. Este poço é construído por 9 patamares separados por lanços de 15 degraus cada um, representando os 9 círculos do inferno, do paraíso e do purgatório. No fundo do poço está embutida em mármore uma rosa-dos-ventos sobre uma cruz templária, indicativo da Ordem Rosacruz
Como se pode verificar, a temática abordada por Charroux é bastante ampla. Há, no entanto, um tema que sobressai nos seus livros com maior veemência: a Atlântida. Este continente perdido é um tema já deveras debatido mas merece ainda a nossa (e a dos especialistas) atenção. Recentemente, rumores indicaram a descoberta de parte deste continente através do mapeamento planetário feito pela Google. Após um enorme alarido, a “descoberta” foi (parcial e não muito convincentemente) desmentida. De forma a compreendermos um pouco melhor a complexidade deste psudo-fenómeno, deixo-vos este documentário do Canal História (legendado em português):
Charroux destrói de uma forma fabulosa a crença religiosa na ciência actual, substituindo-a por um admirável Passado novo, tornando, sem a menor dúvida, o nosso mundo e a nossa existência em algo muito mais fascinante (!)
O próximo artigo desta série será sobre um especialista em xamanismo, o homem do “Pão dos Deuses”, Terence McKenna, que partilha com Charroux e Däniken uma estupenda visão do passado da Humanidade.
Agora, quase findo este artigo e de forma a inspirar o leitor ao exercício e à grande loucura de repensar, ainda que momentaneamente, as suas profundas convicções acerca do mundo e da vida, deixo-o com uma frase de Sanconíaton de Béryte, autor de “A História Fenícia”, escrita há cerca de quatro mil anos atrás, a quem Charroux dedica “O Livro dos Senhores do Mundo” por ser este “o pioneiro das verdades primeiras”:
«Os nossos ouvidos, habituados desde os primeiros anos a ouvir as suas histórias falsas, e os nossos espíritos, imbuídos desses preconceitos desde há séculos, conservam como um depósito precioso essas suposições fabulosas… de tal forma que fazem aparecer a verdade como uma extravagância e dão a lendas adulteradas a aparência da verdade».
Sem comentários:
Enviar um comentário