Bon Jovi no Parque da Bela Vista, Lisboa
56 mil pessoas (números da organização) assistiram ao último concerto da presente digressão dos Bon Jovi. Mãos ao alto e corações inflamados na Bela Vista.
Houve um momento, na reta final do concerto dos Bon Jovi em Lisboa, ontem à noite, que deverá ficar marcado na memória dos milhares de fãs que trocaram o sossego dominical pela romaria à Bela Vista. No final de "Wanted Dead or Alive", uma das músicas pelas quais Jon Bon Jovi disse, em entrevista, que não se importaria de ser recordado, o duo dinâmico, carismático e fotogénico desta banda - Jon e Richie Sambora, pois então - para uns segundos para contemplar a imensa plateia que tem à sua frente. No meio de tanto showbizz e tanta, compreensível, encenação (afinal, não se põe uma máquina destas em andamento com base no improviso), a pausa parece espontânea e o sorriso da dupla tão genuíno como a ovação. Esta é a última noite da digressão "best of" dos Bon Jovi, possivelmente a última em alguns anos, e podemos dar-nos ao luxo de pensar que a emoção sem palavras que percorre o rosto dos dois veteranos é verdadeira. Às vezes, um momento destes é o que basta para tornar um concerto profissionalão, mas que mal se distinguiria do anterior, numa qualquer outra cidade, em algo mais personalizado e próximo do coração. Que, logo a seguir, a banda tenha acedido aos pedidos dos fãs das primeiras filas e tocado a canção que traziam escrita em dezenas de cartazes - a pouco rodada "I Believe", do longínquo Keep The Faith - reforçou a ideia de que a máquina dos Bon Jovi, alimentada a canções de otimismo, esperança, amor e alguma consciência de classe, é suficientemente flexível para uma ou outra bem-vinda surpresa.
Num local tão imenso como o Parque da Bela Vista, o espetáculo de palco que os Bon Jovi trouxeram também saiu vencedor. Mesmo quem estivesse "na cauda" do recinto sentia um mínimo de proximidade com o que se passava em palco pois, no enorme meio círculo acima do mesmo, eram projetadas imagens, em tamanho gigante e em tempo real, dos músicos. Algumas canções tinham direito a pequenos filmes pré-preparados (destaque para as mulheres sensuais que acompanharam o medley de "Bad Medicine") mas, nos momentos em que a cumplicidade entre Jon e Richie era o mais importante ("Wanted Dead or Alive", mas também "I'll Be There For You", balada bem resgatada ao álbum New Jersey ), o ecrã refletia isso mesmo, sem outras distrações visuais. Foi, mercê deste equilíbrio e da criatividade de algumas soluções - como o fogo de artifício virtual, certamente mais ecológico que o verdadeiro - um dos melhores palcos que já vimos passar por Portugal.
A noite de música começou quando o sol ainda derramava os últimos raios sobre a Bela Vista, depois de um trailer quase cinematográfico e com um impressionante mar de telemóveis a registar (e iluminar) o momento. "Raise Your Hands", do ancião Slippery When Wet , serviu de mote à abertura e complicou a vida a quem planeava passar o concerto agarrado ao concerto ou à máquina fotográfica. A passagem de um avião, dos muitos que, ali, voam bem baixinho, ajudou ao efeito dramático deste arranque, seguido com estrondo por "You Give Love a Bad Name". A excitação de ter um hit desta envergadura tão cedo, conjugada com o sorriso ofuscante de Jon Bon Jovi (e o avião a quem toda a gente diz adeus), coloca o espetáculo no trilho do sucesso. A norma, com os Bon Jovi, é não falhar, quer na manga se tenha a fantasia romântica mais singela ("Born To Be My Baby", "In These Arms"), a mensagem de esperança ("We Weren't Born To Follow", "It's My Life", "Keep The Faith") ou a melancolia tingida de country ("Lost Highway", "Who Says You Can't Go Home").
Homem de família e homem de trabalho ("Não vamos perder tempo a falar, que há muitas músicas para tocar", diz a certa altura), Jon Bon Jovi continua a dominar a multidão ("Ele sabe cativar as pessoas", comentava uma senhora a nosso lado. "Johnny, faz-me um filho!", berrava um seu amigo). E com as suas mensagens simples e a sua jaqueta vermelha (no encore, substituída por t-shirt transpirada e blusão de cabedal), apela com sucesso à comunhão e a um sentido de família que começa na banda. À exceção do baixista Hugh McDonald, que como não é membro de raiz está no que parece ser o "quarto dos fundos" do palco, tanto Richie Sambora como David Bryan (que cantou em "In These Arms") e Tico Torres são os músicos que sempre nos habituamos a ver no papel de secundar o sonho rock 'n' roll de Jon Bon Jovi. Há aqui confiança no que eles fazem, que é entreter-nos nesta noite amena de domingo. E esse capital de confiança e respeito faz com que "(It's Hard) Letting You Go", balada quase gospel de These Days , seja escutada com o silêncio possível, ou que ninguém pareça zangado por êxitos como "Bed of Roses" terem ficado de fora e canções desconhecidas do grande público, como "Captain Crash & the Beauty Queen of Mars", que não destoaria num disco dos Killers, ganharem o seu lugar no alinhamento.
Tal como previsto, houve dois encores, um dos quais precedido por uma grande ovação à banda, que se uniu de mãos dadas em palco. Também aqui os Bon Jovi deram ao povo o que o povo queria ouvir - a hiper balada "Always", cujo refrão berrado a 56 mil vozes se deve ter ouvido na Margem Sul do Tejo - e aquilo que, aparentemente, lhes dá prazer tocar e quiseram também lembrar neste adeus aos palcos: "I Love This Town", do seu disco mais country, Lost Highway . A despedida fez-se ao som de "Twist and Shout", mas tal como Jon Bon Jovi diz não se importar de ser recordado por "Wanted Dead or Alive" e "Livin' on a Prayer", não faremos um mau serviço se resumirmos este concerto com base nessas duas músicas: o riff misterioso e a letra solitária da primeira, cantada por quase 60 mil pessoas, e a saga de Tommy e Gina gritada com ganas de "vítimas" de crise, e com um mosaico de muita gente diferente no ecrã gigante, como que espelhando o seu apelo universal. Algures pelo meio, Jon Bon Jovi agradeceu, prosaicamente, "o apoio e a amizade" emprestados pelo público português à sua banda nos últimos 30 anos e garantiu que esta foi uma grande noite. Como faz todas as noites e como reconhece na letra da canção ( "I've seen a million faces and I've rocked them all" ). Mas... terá sido uma lagrimita que lhe vimos ao canto do olho? "We'll miss you too", confessou apenas no início do segundo encore. Fica-lhe bem a discrição.
ALINHAMENTO - BON JOVI NO PARQUE DA BELA VISTA, LISBOA 31 DE JULHO DE 2011
1. Raise Your Hands
2. You Give Love a Bad Name
3. Born To Be My Baby
4. We Weren't Born To Follow
5. Lost Highway
6. It's My Life
7. Get Ready
8. In These Arms
9. We Got It Goin' On
10. Captain Crash & the Beauty Queen From Mars
11. Bad Medicine / Gloria / Pretty Woman
12. (It's Hard) Letting You Go
13. When We Were Beautiful
14. I'll Be There For You
15. Who Says You Can't Go Home
16. I'll Sleep When I'm Dead
17. Any Other Day
18. Have a Nice Day
19. Keep The Faith
ENCORE
20. These Days
21. Wanted Dead or Alive
22. I Believe
23. This Ain't a Love Song
24. Livin' on a Prayer
ENCORE 2
25. Always
26. I Love This Town
27. Twist and Shout
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