Pink Floyd - O Porco ainda voa alto
Sul de Londres, 3 de Dezembro de 1976, um gigantesco porco insuflável cor-de-rosa sobrevoa a Battersea Power Station , um enorme complexo industrial com quatro grandes e vistosas chaminés. Ironicamente, este porco, que das alturas observa a sujidade e a decadência da supostamente desenvolvida sociedade Ocidental, faz parte de um truque publicitário para promover o novo disco de uma das mais famosas e rentáveis bandas Britânicas do momento: os Pink Floyd.
Dez anos antes, ninguém diria que uma estranha banda psicadélica formada por quatro universitários Freaks viria a tornar-se um colosso de encher estádios e vender milhões de discos em todo o mundo. Mas foi exactamente isso o que aconteceu.
Voltando ao ponto de partida, aquele porco insuflável serve para promover o novíssimo álbum "Animals" e a consequente nova digressão mundial, chamada "In the Flesh Tour". Por esta altura, a banda já tinha criado dois marcos fundamentais da sua história: "Dark Side of the Moon" e "Wish You Were Here". Os concertos desta nova digressão foram do outro mundo e constituíram um novo passo na concepção dos espectáculos de rock, com o uso de raios laser, o característico disco de fundo e mais uma vez, o gigantesco porco que se passeia pelo palco e que se tornará um ícone do grupo.
Aquando da morte de Syd Barrett (o homem, uma vez que o artista já tinha desaparecido há muito tempo) e também na altura da celebração dos 40 anos da edição do primeiro disco dos Pink Floyd, como era previsível e compreensível, a imagem e a memória do fundador da banda foi amplamente invocada. Eu, que ainda vou resistindo um pouco aos Downloads, comprei um DVD "THE PINK FLOYD & the Syd Barrett story", que apenas tinha o nome da banda em grande para vender, pois tratava-se mesmo da história de Syd. Mas as histórias sobre a importância e a preponderância do fundador dos Pink Floyd, juntamente com os relatos romanceados do seu gradual desaparecimento numa montanha de ácidos não me convenceram de todo.
Na minha opinião, "The Piper at the Gates of Dawn" é um exercício psicadélico notável, que coloco na minha estante de discos de culto, ao lado de "In-a-gadda-da-vida" dos Iron Butterfly, "The Psychedelic Sounds of..." dos 13TH Floor Elevators ou de "Forever Changes" dos Love, mas não foram os Pink Floyd de Syd Barrett que fizeram aquele som com ecos psicadélicos e atmosferas relaxantes que, contrariando todas as expectativas, se tornou num caso de estrondoso sucesso. Foram os Pink Floyd da primeira metade dos anos 70 que conseguiram este feito singular.
Pessoalmente, agora que consigo avaliar a obra da banda com a maturidade que (apenas ás vezes) a idade me traz, vejo que os meus Pink Floyd favoritos começaram a despontar no disco "Meddle" de 1971. Evidentemente, tomei conhecimento deste álbum muito tempo depois de ter ouvido milhentas vezes os clássicos mais óbvios, mas foi com prazer que ouvi o disco em que uns Floyd mais contidos e "acessíveis" começaram a tomar forma. A peça principal do disco, a longa "Echoes", é a perfeita apresentação da banda. Melodia e experimentação caminham juntas, num tema que, apesar de longo, nunca perde o rumo. Eu não sei tocar nenhum instrumento, mas ao contrário das bandas puramente progressivas como os Yes ou os King Crimson, sempre tive a impressão que os Pink Floyd faziam algo como deixar "respirar" as notas, fazendo-as ressoar nos nossos ouvidos!
O disco seguinte, "Obscured By Clouds" de 1972, foi a preparação para o assalto ao sucesso mundial que estava eminente. Para mim, um dos mais belos momentos em que a voz quente e melódica de David Gilmour se fez ouvir, está aqui e chama-se "Wots...Uh the Deal".
Eu ouço Pink Floyd com alguma regularidade e faço-o quando tenho tempo disponível, pois essa audição costuma durar cerca de 2 horas. "Dark Side of the Moon", "Wish You Were Here" e "Animals", por norma, rolam de seguida e sem pausas. Não é necessário maçar-vos com considerações sobre estes discos, para além de sublinhar que são clássicos absolutos.
Eu coloco "The Wall" numa categoria diferente e quando o ouço, não o misturo com outros discos da banda. É sem dúvida a obra definitiva e pessoal de Roger Waters como interprete e compositor. É uma obra massiva em todos os seus aspectos: Conteúdo lírico e musical, o espectáculo ao vivo, o filme e obviamente, o fim dos Pink Floyd como grupo.
Ao contrário do que sucedeu aos The Who após o sucesso da sua Ópera-Rock "Tommy", que abriu os horizontes da banda e a impulsionou criativamente, "The Wall", que inegavelmente conheceu um sucesso assinalável, conduziu ao fim dos Floyd, com o ego de Waters a sobrepor-se aos restantes elementos. Na prática, este não foi um esforço de grupo, exceptuando a marca de qualidade que David Gilmour sempre trouxe,desde o momento em que chegou para substituir o desaparecido Syd Barrett. "The Wall" pode ter saído da mente genial e torturada de Waters, mas a marca de Gilmour estará para sempre imortalizada num dos momentos mais marcantes e emocionantes desta obra: "Confortably Numb".
Agora, olhando para trás, não me parece mal que o David Gilmour tenha pegado novamente nos Pink Floyd e os tenha levado aos 4 cantos do mundo. Ele bem podia ter editado "A Momentary Lapse of Reason" em nome próprio, mas certamente a história dos Pink Floyd seria bem diferente. A digressão desse álbum de 1987 e a que sucedeu a "Divison Bell", apreciando-se ou não estes trabalhos, foram fundamentais para que o nome e a obra dos Pink Floyd chegassem a uma nova geração de fãs.
A reunião fugaz e intensa da formação original no palco do Live 8 foi um dos mais simbólicos actos ao vivo que já presenciei. A tensão entre os membros da banda não foi sequer disfarçada e foram 20 minutos de magia em que a música dos Floyd foi rainha. um momento perfeito, eficaz e efémero.
Porém, a recente notícia do regresso de Roger Waters a Portugal para, nesta ocasião, celebrar o 30º aniversário de "The Wall", não me surpreende e honestamente, não me atrai. Por muito especial que esse momento seja para os milhares de fãs que lotarão o Pavilhão Atlântico, Waters será apenas o líder de uma banda - tributo, como já o fez recentemente no reino Unido, tocando o "Dark Side of the Moon" na íntegra. Não havia necessidade.
Eu prefiro celebrar esta efeméride ouvindo uma edição original em vinil de "The Wall" de 1979, que um tio me ofereceu. Vou continuar a ouvir e a desfrutar a excelente obra que estes senhores deixaram e sentir a sua vasta influência, que pode ser verificada em grupos tão díspares e afastados estilisticamente, como é o caso, por exemplo, dos Air e dos Tool. Já agora, para concluir, sugiro dois nomes dentro do estilo que mais ouço e que personificam com excelência a marca Pink Floyd: Astra e Crippled Black Phoenix . Longa vida ao Porco Voador !
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