sábado, 19 de maio de 2012

David Fincher

Som e fúria: a trilha de Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011)

 

A primeira parceria entre o diretor David Fincher e a dupla Trent Reznor e Atticus Ross rendeu o Oscar de melhor trilha sonora para "A Rede Social" (2010). Descoberta a fórmula, eles retornam com o tenso thriller baseado na primeira parte da trilogia do escritor sueco Steig Larsson. Intensa e precisa, é difícil contemplar, da primeira vez, todos os elementos que compõem este emaranhado caótico que aumenta a tensão a cada nova cena.

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Trent Reznor e Atticus Ross no estúdio.

Enquanto Fincher se responsabilizava pela construção do braço investigativo da história, tema assumido com muita competência como já visto em Seven (1995) e Zodíaco (2007), Reznor e Ross buscavam referências sobre a montagem de uma trilha sem o uso de orquestra. Uma grande oportunidade de mostrar os recursos do som digital. O processo de criação da trilha passou por diversas revisões, testadas próximo da conclusão da produção, quando as cenas já estavam prontas para o filme. Isto ajudou a integrar iluminação, direção de arte e a performance dos atores na escolha de cada detalhe sonoro.

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Rooney Mara como Lisbeth Salander.

Toda composição deve seguir um caminho para contar a história. No caso de Os Homens que não Amavam Mulheres (ou, na versão de Portugal, "Os homens que odiavam mulheres"), Lisbeth Salander (interpretada por Rooney Mara) foi escolhida por Fincher para ser a sinfonia ambulante da trama. Sua presença na tela é o ápice da tensão. Ela é exatamente como a definem no filme: diferente em todos os sentidos. Lisbeth é perseguida por esta sonoridade toda a história. O espectador vibra por ela e sente sua dor, e isto fica maior com os sons que transmitem mais ainda, em harmonia, sua vida em meio ao caos.

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Cartaz do filme "Os Homens que não Amavam as Mulheres".

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Rooney Mara como Lisbeth Salander.

Fincher é bastante detalhista, e espera este mesmo nível de sua equipe. Ele concedeu total liberdade para que a dupla desenvolvesse a trilha. Sua única exigência foi que a dupla fizesse uma versão pesada da música Immigrant Song, do Led Zeppelin, com a voz de Karen O (vocalista da banda indie Yeah Yeah Yeahs). Reznor disse que é fácil “ferrar tudo” quando se mexe em uma música completa e famosa como Immigrant Song. Apesar do receio, eles confiaram na visão de Fincher, criando uma versão forte e energética para usar no trailer e na furiosa sequência de abertura (uma prévia eletrizante de uma história idem).

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David Fincher e Rooney Mara nas gravações.

O frio gélido da Suécia é praticamente um personagem presente ao longo de toda a história. A própria equipe de produção sentiu na pele o clima incrivelmente frio de certos períodos do ano em que raramente se vê a luz do sol. Uma referência para o frio, encontrada por Reznor, Ross e Fincher, foi Tubular Bells. A intenção de Reznor e Ross era descobrir como transmitir o som do gelo, algo tão presente naquela paisagem. A referência encontrada foi este álbum de 1973 do compositor inglês Mike Oldfield. Os sinos de Oldfield (em versão tratada pela dupla) resgatam os sussurros do passado, os segredos enterrados sob a neve. Eles conseguiram captar estes elementos e traduziram em som a atmosfera subversiva e ameaçadora. A trilha não vai apenas completar o ambiente: ela é o próprio ambiente.

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Daniel Craig como Mikael Blonkvist.

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