quinta-feira, 8 de abril de 2010
No Islão, as letras e palavras faladas ou escritas adquirem em suas formas, tamanhos, música e cores o papel central na concretização das mensagens e princípios da religião e cultura árabes. Esse movimento pôde emergir porque, ao contrário de muitas religiões, desde seu início, os líderes muçulmanos desincentivaram o uso de imagens de figuras temendo que tivessem usos e fins idólatras. Desta feita, a caligrafia e os sinais gráficos da língua obtiveram lugar de destaque na convergência dos sentimentos visíveis e concretos das mensagens do Qur’an.
O alfabeto árabe pertence, segundo a classificação de estudos recentes, ao grupo alfabético semítico onde as consoantes são destacadas e as vogais secundarizadas – a escrita ou não das vogais é opcional. Trata-se, particularmente, do grupo Norte Semita que se desenvolveu por volta de 1700 a.C. na Palestina e na Síria e de onde também se originaram os alfabetos Hebreu e Fenício. Na noroeste da Arábia, esta escrita prevaleceu (o mesmo conjunto alfabético seria apropriado pelos gregos que lhe introduziriam vogais e lhe especializaria até que tomasse a forma do Romano Arcaico, ancestral da escrita Ocidental de hoje) relacionando-se com a escrita Nabatica de onde deriva o Aramaico. Esta caligrafia floresceu no século V entre as tribos arábicas de Hirah e Anbar e popularizada pela aristocracia Quraysh, tribo do profeta Maomé.
Como as demais escritas semíticas, a escrita árabe é feita da direita para a esquerda e consiste em 17 caracteres que, combinados com a colocação de pontos, acima ou a baixo de cada um deles, originam as 28 letras do alfabeto oficial – há ainda outros símbolos correspondentes às vogais já que sua supressão tornou o entendimento confuso nos países para onde o idioma árabe se expandiu mas de origem linguística mais diversa. Um seguimento contínuo das ascendências verticais e descendência das curvas equilibram movimento e estática e possibilitam infinitas variações dentro dos seus principais estilos: Deewani, Kufi, Naskh, Riqa, Taliq e Thuluth.
Os materiais utilizados para a escrita também atendes à demanda da função mas, costumeiramente, os escritos são realizados com o qalam, uma espécie de caneta feita com capim seco e molhada na tinta. Todavia, podem ser encontrados trabalhos esculpidos em pedras, moedas e medalhas, tecidos, quadros e pratos
A feitura dos caracteres confere à escrita árabe peculiaridades que a torna sobremaneira elegante e, como foi dito, o lugar de destaque que as palavras têm dentro no Islã, incentivaram os usos artísticos do alfabeto como pinturas, tapeçarias e pratarias, ou seja, a construção das palavras tornou-se arte, a arte visual da escrita. Uma arte símbolo de unidade, beleza, cultura e poder; convergindo tanto os falantes da língua quanto os mulçumanos de todo o mundo incorporando estéticas e integrando conhecimento artístico com o acadêmico de uma cultura onde as formas escritas servem à transcendência do dito ou do objeto representado.
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