Muitos agem como se a felicidade fosse algo tão espetacular como uma entidade sagrada e oculta, da qual nós, os deprimidos [ou deprimentes] mortais nada sabemos. E a que jamais teremos acesso se, porventura, não sairmos à sua gloriosa procura. Ou, ainda, como se fosse um produto de massa, encomendado por conspiradores, alienígenas e agentes secretos, cambiável por sorrisos vagos, para manter a ordem. Ou uma desordem de ordem psicológica.
Hoje em dia, não mais do que sempre, muito se fala na tal da felicidade. Da filosofia à medicina, todos tentam desesperadamente definir, alcançar, “engarrafar” o sentimento.
Na Grécia Antiga, acreditava-se que a felicidade era algo determinado pelo destino de cada um, entendia-se como sorte ou fortuna. Mais tarde o conceito passou a ser tratado como um objetivo e projeto de vida, com o qual o destino nada teria a ver. O cristianismo pregava a felicidade como sendo algo divino, um presente dos céus. Seria graça, e não merecimento. Com o Iluminismo, no século XVIII, o conceito passou a ser mais, digamos, humano. Um conceito quase palpável, visto que o filósofo inglês Jeremy Bentham inventou um "cálculo matemático” para medir a felicidade. Não deu certo, obviamente, e foi considerado um erro pelo próprio Bentham.
Erro porque a felicidade, de fato, não se encontra. Porque a felicidade não está; a felicidade é. É algo pelo qual se decide, sejam quais forem as circunstâncias.
Há variados motivos para nos sentirmos felizes, finalmente. Ou podemos simplesmente ser gratos. Pelo que somos; pelo que temos.
Se você está lendo este artigo é porque tem acesso livre à internet e à informação. Muitos mais do que muita gente por aí. E, certamente, tem uma banana na geladeira, o que significa mais calorias do que muita gente no mundo consome por dia. Quem sabe você tenha um par de pernas que te conceda o direito de ir e vir, liberdade da qual cadeirantes ou vítimas de minas terrestres – espalhadas por diversos territórios como heranças de guerras – não usufruem.
Talvez, ainda, você seja uma pessoa de sorte e tenha uma família, estruturada ou não, que participou e acrescentou à sua particular concepção de mundo. Ou talvez possa escolher sua fé – ou a falta dela – e seus ideais políticos. Liberdade muito maior do que alguns povos que não podem manifestar suas crenças e nem lutar por elas.
Diferente de Roberto Benigni sei bem que a vida não é bela, no entanto. Mas sei que há beleza na vida. Sei, também, que a vida joga, dribla e nos dá uma rasteira que humilha-nos ao pó. Mas, sobretudo, sei que pior do que perseguir algo que está colado na própria testa é ser cego (ou ingrato) o suficiente para não perceber isso.
Mas não. Alucinados com a felicidade – a qual declaramos não avistar, nem nada saber – fazemos de nossas vidas uma verdadeira saga com a busca do que julgamos ser o santo graal de nossos dias. Fazemos infográficos coloridos e depois ficamos a comparar os países, diferenciando-os pelas cores. A cor vermelha sempre indica o país mais amargurado nessa vida. Bullshit.
Como padronizar um critério de felicidade ao redor do mundo? O que define a nossa felicidade? É individual, é coletiva?
De acordo com uma reportagem da National Geographic Expeditions, os nômades da Mongólia e os monges do Tibete são as pessoas mais felizes do planeta. Azul neles! O primeiro grupo, por causa do desapego material; o segundo grupo, por causa da meditação que levaria à paz espiritual. Para ambos, claro, há explicações religiosas e científicas.
Já o Instituto Legatum, o qual realiza pesquisa de índice de felicidade baseada, entre outros fatores, na riqueza, educação e crescimento econômico de um país apontou – em janeiro deste ano – a Noruega como detentora das pessoas mais felizes. O mesmo país que há algum tempo ostentava um dos maiores índices de suicídios no mundo. Ainda de acordo com o Instituto Legatum, o Brasil aparece na 45ª posição, infausto. Já nossos amigos portugueses são mais felizes: Portugal ocupa a 26ª posição.
Mapa do Índice de Satisfação com a Vida, segundo estudo de Adrian White. Fonte: Wikipedia, domínio público.
Então, a felicidade é o contentamento pessoal no meio em que estamos inseridos ou a prosperidade do meio no qual estamos inseridos?
Seja por meio de fórmulas, infográficos, mapeamento genético ou pílulas, o homem tenta não somente definir e equacionar um sentimento, como induzi-lo ou controlá-lo.
O fato é que a felicidade, assim como não conseguimos “encontrá-la”, também não é algo que conseguimos medir ou definir, colocando-a em infográficos e estatísticas.
O escritor francês Gustave Flaubert disse que “ser estúpido, egoísta e ter boa saúde são os três requisitos para a felicidade, mas se a estupidez faltar tudo estará perdido”. Portanto, esqueça as pesquisas. Não se preocupe. De acordo com Flaubert, todos nós temos o potencial para ser extraordinariamente felizes.
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