Minha Versão do Amor, de Richard J. Lewis
Um filme que faz refletir sobre a própria vida, sobre as opções que podemos tomar de acordo ou não com a nossa essência.
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No táxi, indo para o cinema, tive a melhor introdução ao filme que alguém poderia ter tido. O taxista me deu a sua versão de felicidade: a Felicidade está à sua volta, ao alcance dos nossos olhos, está naquilo que interage conosco, que nos toca. As coisas estão aí ao nosso alcance, e podemos pegá-las, o problema é que não podemos segurar muitos elementos ao mesmo tempo; é importante se guiar pela sua própria essência, e saber se apegar ao que é realmente importante. Ele me perguntou se eu era crítico de cinema, de acordo com a conversa que havia tido no celular. Disse que sim, ele anotou o endereço do site, e fui ver o filme.
Paul Giamatti (de Sideways e Anti – Herói Americano) é, em minha opinião, o maior ator de Hollywood em atividade no momento. Ele está fabuloso vivendo o protagonista deste “Minha Versão do Amor”, Barney Panofsky. Barney é um produtor de TV que vive no Canadá; ele tem uma vida marcada por acontecimentos importantes: um crime não solucionado, três casamentos, uma doença incurável.
O filme ganha o espectador pela sua absoluta verdade: tudo o que acontece ali pode acontecer com qualquer um de nós; a diferença é como o personagem (e o ator) reage aos acontecimentos. O herói desta história é um ser humano comum, mas que escolhe ser guiado por uma paixão, Myriam, a mulher que conheceu no dia de seu casamento.
Este amor é tão forte que as escolhas de Barney giram em torno dele. Myriam passa a ser o motivo principal de sua vida; e é um sentimento tão belo, tão verdadeiro, que emociona a platéia. O ator consegue passar então, de forma primorosa, os sentimentos de uma pessoa apaixonada, que descobre a sua própria essência no amor. Mas tudo começa a ruir quando uma doença grave é diagnosticada.
O filme é composto de memórias, de tempos que se interpõe, e é justamente a memória de nosso herói que começa a falhar. O Alzheimer ainda é um mistério para a medicina, e um sofrimento principalmente para aqueles que amam o doente. É neste quadro de perda progressiva de memória que percebemos o quanto esta nossa faculdade é importante. A memória de uma pessoa, a memória de um povo; Hugo Munsterberg, talvez o primeiro teórico de cinema, que comparou o filme à mente humana, dizia que a memória tem a ver com a edição do filme — com a maneira que os planos são arranjados.
Cada vida é uma vida, mas podemos imaginar a tragédia pessoal daqueles que mudam de forma abrupta por algum problema cerebral, e também daqueles que estão junto da pessoa, nesta caminhada pela Terra. O taxista estava certo ao dizer que não devemos segurar muitos elementos; e quem os prende, senão a memória?
Um filme que faz refletir sobre a própria vida, sobre as opções que podemos tomar de acordo ou não com a nossa essência. Aliado ao caráter verdadeiro do filme e a grande interpretação de Giamatti, está a participação de grandes diretores de cinema do Canadá em pequenas pontas no filme: Dennys Arcand, Atom Egoyan e o fantástico David Cronenberg podem ser reconhecidos como o maitre do restaurante e os diretores de TV que trabalham para Panofsky.
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