As linhas austeras e o aspecto peculiar de uma máquina fotográfica russa do tempo da União Soviética são inconfundíveis. É todo outro mundo. O seu peso, sinónimo de uma construção robusta, e as indecifráveis siglas em caracteres cirílicos nada têm de moderno. Talvez tenham algo de eterno, pois eram máquinas feitas para durar. Quem for o feliz possuidor de uma Zenit, de uma Chaika, de uma Smena, de uma Lomo ou de uma Moskva tem nas suas mãos, para além de um equipamento fotográfico de excelência, um pedaço do antigo império soviético...
A história das máquinas russas acompanha a própria história da Revolução. É nos anos pós-revolucionários que surgem os primeiros exemplares, integrados na eterna estratégia soviética de rivalizar com o Ocidente e demonstrar que a tecnologia socialista era superior à tecnologia capitalista. Uma das primeiras câmaras fotográficas foi, não obstante, uma cópia descarada da alemã Leica, baptizada FED. A sigla utilizava as iniciais do nome de Felix Edmundovich Dzerjinski, fundador da polícia secreta Tcheka, mais tarde o KGB. Muito patriótico.
Em 1934 saiu a FED 1, réplica exacta da Leica 1a, produzida apenas num número limitado de exemplares. A tecnologia socialista estava a partir de então na posse dos conhecimentos necessários para fabricar equipamento fotográfico de qualidade. Mesmo a parte mais delicada, o polimento das lentes, já se conseguia com grande precisão. O resto era construção robusta.
Se a FED se tornou a marca mais emblemática, outras se seguiram no esforço produtivo e propagandístico soviético de importância e qualidade equivalente. É o caso da Zenit, muito divulgada no Ocidente. A Zenit 3, de 1960, apenas com os mecanismos rudimentares, foi uma das mais interessantes - um excelente aparelho para quem quisesse aprender as bases da técnica fotográfica.
A Zorki Stereo, por exemplo, comercializada em 1948, era muito parecida com a FED. Tinha, no entanto, a possibilidade de lhe ser adaptado um dispositivo que permitia fazer fotografia estereoscópica, um género muito em voga na época que posteriormente caiu em desuso. Já a Sputnik, lançada em 1955, tal como o satélite homónimo, estava especificamente concebida para esse tipo de fotografia.
Uma das mais antigas, a par com a FED, foi a Sport, nome incomum neste contexto. Foi também uma das primeiras portadoras de um sistema de lentes SLR, ou seja, que dispensa um visor, uma vez que se olha através da própria lente. Repare-se no enorme volume do prisma na parte superior.
A Estafeta (outro nome incomum), era uma máquina para filmes de grandes formatos, tipicamente 6x6 cm, produzida em 1960. Enorme e pesada. Em contrapartida, no mesmo ano saiu o modelo Vega da Kiev, rivalizando com as pequenas câmaras japonesas. Por fim uma raridade, a Horizont 202, especialmente concebida para efectuar fotos panorâmicas. A objectiva rodava 120º e impressionava um filme de 24 mm num comprimento de 58 mm.
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