domingo, 9 de maio de 2010

Gabriel Lippmann


Auto-retrato de Gabriel Lippmann

Há poucos dias fui fazer umas fotografias para o bilhete de identidade. O fotógrafo - um excelente profissional - deu-mas na hora, passando o cartão de memória da máquina digital para a impressora. Explicou-me que não era uma impressão comum como nas impressoras de jacto de tinta. O papel fotográfico continha uma emulsão que era literalmente revelada pela impressora com raios ultravioleta! O mais impressionante é que me disse que aquelas fotografias tinham uma duração de 200 anos... Ri-me perante o exagero, claro, e disse: e quem é que estará cá nessa altura para o comprovar?
Quem ainda se lembra do ritual mágico e maravilhoso da câmara escura e dos prazeres da fotografia analógica sentirá alguma nostalgia face à actual fotografia digital.Quem já for desta era argumentará, não sem razão, das possibilidades do digital ao nível da manipulação da imagem e, claro, da conservação dos ficheiros que permitirão obter novas imagens quando o "papel" se degradar.. Uma fotografia duradoura talvez, mas não eterna.
E, todavia, toda a evolução tecnológica da fotografia até aos dias de hoje teve como meta última captar e reproduzir do modo mais fiel possível uma imagem e, sobretudo, a sua composição espectral: a sua cor. E, de preferência, mantê-la com o passar do tempo.
Em ambos os casos estamos a falar de fotografias obtidas por processos químicos. No entanto, a fotografia (quase) eterna já existe há mais de 100 anos e foi feita através de um processo físico por um francês chamado Gabriel Lippmann. A descoberta, obtida na sequência de investigações feitas por outro físico - James Maxwell - sobre a luz tida como uma onda electromagnética, denominou-se processo interferencial e é semelhante ao que hoje chamamos holograma de arco-íris, usado em notas de banco ou cartões com imagens que mudam de cor.
O processo em si é tão simples como o ovo de Colombo. Não irei entrar em grandes pormenores. Quem estiver interessado encontrará aqui um link (em francês) bastante completo. No fundo tudo se resume a colocar um espelho por trás da película que contém a emulsão. A onda luminosa atravessa a película e é reflectida na perpendicular mas com um desenho inverso. A onda incidente e a onda reflectida interferem gerando uma onda estacionária que se fixa na organização molecular do material fotossensível depois de revelado.

Uma vez concluída esta etapa retira-se o espelho. Exposta a película à luz branca policromática, a organização molecular - uma microestrutura mecânica - restitui fielmente os comprimentos de onda originais, ou seja, as cores. A ausência de corantes confere à película uma estabilidade cromática notável, uma vez que esta se manterá enquanto a película não for danificada fisicamente. Basta comparar uma fotografia de Lippmann do século passado com uma tirada há 30 anos por um processo convencional para ficar convencido... Além disso tem a vantagem de mudar as cores conforme a inclinação da luz!
Eis algumas fotos de Lippmann, todas com mais de 100 anos:

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