O Prazer da Vida   
O prazer é uma canção de liberdade,    
Mas não é a própria liberdade.    
É o despontar dos teus desejos,    
Mas não o seu fruto.    
É um abismo a clamar pelo céu,    
Mas não é nem o abismo nem o céu.    
É a ave enjaulada a voar em liberdade,    
Mas não é o espaço que ela percorre.    
Na verdade, o prazer é uma canção de liberdade.    
Gostava que a cantasses com todo o teu coração,     
Mas não quero que percas o coração ao cantá-la.    
Alguns jovens buscam o prazer como se fosse tudo na vida,    
E, por isso, são julgados e repreendidos.    
Eu não os julgo nem os repreendo.    
Prefiro dizer-lhes que partam em busca.    
Não ouviste falar do homem que estava a cavar a terra    
Á procura de raízes e encontrou um tesouro?    
Alguns anciãos recordam os seus prazeres com remorsos,    
Como se fossem erros cometidos durante a embriaguez.    
Deviam recordar os seus prazeres com gratidão,    
Como quem recorda as colheitas de Verão.    
Os que não buscam nem recordam temem o prazer,    
Pois pensam que lhes irá prejudicar o espírito.    
O teu corpo conhece a sua herança    
E as suas necessidades, e não se deixará enganar.    
E o teu corpo é a harpa da tua alma;    
Pertence-te e cabe-te a ti criar    
Uma doce música ou sons confusos.    
E agora perguntas, no teu coração:    
"Como poderei distinguir o que é bom    
do que é mau no prazer?"    
Vai para os campos e jardins e verás    
Que a abelha tem prazer em tirar o mel da flor,    
Mas também se deleita a flor    
Ao dar o seu mel à abelha.    
Para a abelha, a flor é uma fonte de vida,    
E, para a flor, a abelha é a mensageira do amor.    
E tanto para a abelha como para a flor,    
Dar e receber prazer é tanto uma necessidade    
Como um êxtase.    
Portanto, no prazer, sê como a abelha e a flor.
   
Kahlil Gibran
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