sexta-feira, 20 de julho de 2012

Intensidades - Henrique Levy

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Intensidades

 

cessam em ferida as nossas bocas

as nossas bocas evaporadas luzem

arrastando os despojos do amor

descarnado na névoa do tule

da tarde teu corpo como um

deserto treme pensativo agreste

 

profanação de sombras seculares

onde desabrido geme inútil

o meu corpo ignorado

cujos olhos sepultam flores silvestres

no vasto caminho da alma dos outros...

 

o vento sublime pelas nossas

bocas evaporadas vai subindo

graciosa carícia de água

que adormece o consolo

 

somos felizes somos loucos!

onde ondeia a força que nos separa?

no compasso astral!

 

canto agora ensandecido a tua boca

regato do meu ser bem firme

sopro húmido da aurora

é deus o novo outrora

que perfuma a lama da eternidade

ilusão da maré destas bocas revoltadas

exaustas que arrebatam o pecado

 

nunca amaram as bocas geladas

que se afastam evaporadas no

ocaso primaveril da luz do teu peito

redondo onde antes entrara

escuro o último raio de sol

 

quando mortas repetirem este gesto

as nossas bocas na lonjura

intemporal gigante encostadas

às rochas da fome terna onde

aprendemos a sentir a extensão

diluída do que fomos

 

os lábios que te peço lembram

o arder do fogo que curioso

adormece na vigília da noite

com a amarga ânsia roubada

aos beijos inextinguíveis

das bocas de néctar evaporadas

 

Henrique Levy

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