Vê agora
Vê agora esse barco ancorado
que jaz timido a teu lado
assim tão esquecido das cores da juventude
pela salsugem do tempo e dos amores das ondas
sereias encantadas..deste e de outros mares...
Repara és tu ,ai..que como ele te escondes
no ângulo mais recôndido deste cais
Sofrendo o abandono da aragem mais fina e luzidia .
Emerso no lodo e nas neblinas das manhãs
onde a pureza aí,até parece não voltar jamais
Desvenda os olhos...rompe o nevoeiro que há em ti
e vem abrir o braços aos ventos varonis.
deixa-os velejar ao sol do meio-dia
e verás as cores de outrora a voltar e as velas a enfunar
Quando partires na maré de um belo dia....
By Jorge Pereira
sábado, 29 de novembro de 2014
Vê agora
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
A matéria das palavras
A matéria das palavras
Estamos aqui. Interrogamos símbolos persistentes.
É a hora do infinito desacerto-acerto.
O vulto da nossa singularidade viaja por palavras
matéria insensível de um poder esquivo.
Confissões discordantes pavimentam a nossa hesitação.
Há uma embriaguês de luto em nossos actos-chaves.
Aspiramos à alta liberdade
um bem sempre suspenso que nos crucifica.
Cheios de ávidas esperanças sobrevoamos
e depois mergulhamos nessa outra esfera imaginária.
Com arriscada atenção aspiramos à ditosa notícia de uma
perfeição
especialista em fracassos.
Estrangeiros sempre
agudamente colhemos os frutos discordantes.
Ana Hatherly
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
Paul Celan
Fala Também TuFala também tu,
fala em último lugar,
diz a tua sentença.
Fala —
Mas não separes o Não do Sim.
Dá à tua sentença igualmente o sentido:
dá-lhe a sombra.
Dá-lhe sombra bastante,
dá-lhe tanta
quanta exista à tua volta repartida entre
a meia-noite e o meio-dia e a meia-noite.
Olha em redor:
como tudo revive à tua volta! —
Pela morte! Revive!
Fala verdade quem diz sombra.
Mas agora reduz o lugar onde te encontras:
Para onde agora, oh despido de sombra, para onde?
Sobe. Tacteia no ar.
Tornas-te cada vez mais delgado, irreconhecível, subtil!
Mais subtil: um fio,
por onde a estrela quer descer:
para em baixo nadar, em baixo,
onde pode ver-se a cintilar: na ondulação
das palavras errantes.
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Em pleno azul
Com horror mal disfarçado
sincero desgosto (sim!)
lágrima azul aflita
mão crispada de piedade
vêem-me passar cantando
calamidades desastres
impossíveis de evitar
as mães
as minhas a tua
as que estropiam ternamente os filhos
para monótono e prudente
avanço da família
E quando páro e faço a propaganda
dos lugares mais comuns da poesia
há um terror quase obsceno
nos seus olhos maternais
Então prometo congressos
em pleno azul
Prometo uma solução
em pleno azul
Prometo não fazer nada
em pleno azul
sem consultar o «bureau»
em pleno azul
Visivelmente sossegadas
é a hora de não cumprir
de recomeçar cantando
calamidades desastres
ruínas por decifrar
*
Se eu não estivesse a dormir
perguntaria aos poetas
A que horas desejam que vos acorde?
Vamos decifrar ruínas
identificar os mortos
dormir com mulheres reais
denunciar os traidores
e atraiçoar a poesia
envenenada nas palavras
que respiram ausência podre
vamos dizer sem maiúsculas
o amor a vida e a morte
*
E as mães
onde estão elas?
As mães rezam as mães
cosem farrapos de dor
as mães gritam
choram
uivam
no espesso rio de um sono
já quase só animal
Alexandre O´Neill
domingo, 16 de novembro de 2014
by Ana Hatherly
A matéria das palavras
Estamos aqui. Interrogamos símbolos persistentes.
É a hora do infinito desacerto-acerto.
O vulto da nossa singularidade viaja por palavras
matéria insensível de um poder esquivo.
Confissões discordantes pavimentam a nossa hesitação.
Há uma embriaguês de luto em nossos actos-chaves.
Aspiramos à alta liberdade
um bem sempre suspenso que nos crucifica.
Cheios de ávidas esperanças sobrevoamos
e depois mergulhamos nessa outra esfera imaginária.
Com arriscada atenção aspiramos à ditosa notícia de uma
perfeição
especialista em fracassos.
Estrangeiros sempre
agudamente colhemos os frutos discordantes.
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Vazios
Deita-te
nos algodões brancos
que preparei
já a pensar no sonho
Come regalada
dos meus labios
avermelhados de febre
que não se debatem
Mas não me interrompas
o silêncio
Saboreia do meu corpo
estendido
Pisa com o teu peito fragil
o meu
Que te envia
Em ritmado tambor
e neste movimento igual
o teu respirar
axfixiado pelo meu
Nada me perguntes..
Pelas frinchas do meu ser
a neve cai
eu escrevo
na alma só de vazios
by Jorge Pereira
terça-feira, 11 de novembro de 2014
O QUE IMPORTA É O AMOR
O fotógrafo e escritor Marcelo Vinicius retrata com delicadeza e sensibilidade um casal homossexual.
Idade, etnia, religião ou sexo. Quando o assunto é amor, nada disso importa. Na série da exposição fotográfica intitulada “Amo como ama o amor”, o fotógrafo e escritor Marcelo Vinicius procura retratar com delicadeza e sensibilidade um casal homossexual, formado por duas garotas. Para tentar combater o preconceito e mostrar que um casal homossexual é exatamente igual a qualquer outro, Marcelo Vinicius procura desenvolver este projeto fotográfico para tratar de um tema que levanta questões atuais e sérias na nossa sociedade: homofobia, amor, preconceito e valores humanos.
Nas fotografias, Marcelo Vinicius pretende mostrar casais do mesmo sexo, um casal de garotas, de forma simples, romântica e alegre. “Sem banalidade, o objetivo é deixar claro que o que essas pessoas estão reivindicando é o mesmo que qualquer casal heterossexual busca: o direito de ser feliz”, destaca.
Segundo o fotógrafo, sua intenção é desconstruir a imagem de “romance ideal” apenas entre pessoas do sexo oposto e ampliar o imaginário popular acerca da ideia de romantismo. Por isso, o título do projeto é um trecho da citação do escritor poeta Fernando Pessoa que diz: “Amo como ama o amor”, que pode ser encontrado no texto: “Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?”.
Essa exposição fotográfica pretende ser realizada junto ao lançamento do romance “Minha querida Aline” que tem a mesma temática: amor e homossexualidade, do também fotógrafo e escritor Marcelo Vinicius, em Feira de Santana, na Bahia. Assim, compondo um evento cultural que envolverá sarau literário, lançamento de livro, exposição fotográfica e palestra com o objetivo de reunir todas as pessoas dispostas a combater a homofobia e outras formas de opressão, na luta pela construção de um mundo livre da intolerância e do preconceito. Sem dúvida, uma excelente e nobre iniciativa!
Apoio - Este projeto tem apoio do Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca), da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), da Editora Photos, da Associação de fotógrafos Fototech e do Jornal Acorda Cidade.
sábado, 8 de novembro de 2014
Nunca é demais dizer uma verdade.
Existem algumas reflexões e ideias que, quando expostas, suscitam na maioria das pessoas a sensação de que o que está sendo explicitado não passa de uma obviedade, que é uma verdade universal, já sabida por todos ou, pelo menos, conhecida por todos. O que acontece é que, muitas vezes, não são ideias que tenham sido ditas antes, mas que as pessoas já possuem dentro de si mesmas, de modo que parecem velhas, mas que, no entanto, não fazem parte da lucidez pragmática da maioria.
Assim ocorre com as ideias do ego. O ego, esse conceito que está tão na moda, é quem faz a roda do mundo girar. Parece que a humanidade percebeu finalmente, de alguma forma, (talvez uma forma paradoxalmente egoísta) que é vital o olhar para dentro si, para o próprio ego, e perceber como este "EU" altera a sua vida e o mundo.
Creio que esse olhar para dentro de si tenha surgido com as novas "teologias" do sucesso pessoal. É preciso ser vencedor, é preciso se amar, se amar muito, ter, conquistar e por aí vai. As pessoas descobriram que para que o sucesso ocorra, muitas vezes é preciso livrar-se de sentimentos que atrapalham o caminho, neuroses e todos os traumas mencionados por Freud.
Por motivos tortos, fomos levados a tentar compreender quais são as amarras que criamos em torno de nós ao longo da vida. Freud, tardiamente se comparado ao budismo, percebeu, de certa forma, que a vida é sofrimento, é castração. O budismo nos promete a "cura" total do sofrimento pela prática da meditação e do desapego. Freud já conhece o homem ocidental e afirma de antemão que a nós é impossível o alívio do sofrimento, da castração de do "mal-estar" de existir, já que a nós é impossível a libertação dos prazeres. Essa compreensão é de imensa importância para entender o que temos feito ao longo da História. O que temos feito desde o âmbito pessoal de nossas vidas até a História.
Se esse fenômeno atual de a Psicanálise, a Psicologia e o autoconhecimento estarem na moda não fosse mais uma criação do ávido ego humano, que procura somente e tão somente a própria satisfação e prazer, seria-nos possível compreender séculos e séculos de guerras, torturas, maus tratos aos homens e à natureza, fracassos das relações interpessoais e o porquê de estarmos sempre em busca da satisfação, atrás de mais e mais desejos, a fim de preencher um vazio impreenchível, que nasce conosco e vai morrer conosco.
O Cristianismo, há mais de 2000 anos vem pregando os ensinamentos de Jesus Cristo, cujas ideias já nos alertavam para os perigos do ego. No entanto, a própria instituição da Igreja foi contaminada pelo ego, fazendo necessário um pedido de desculpas à humanidade pelas atrocidades cometidas ao longo da História.
A maior parte da população do mundo é religiosa, e a maior parte das religiões tem como base ensinamentos de amor, autoconhecimento e domínio do ego. Todos sabem da verdade sobre o ego. É-nos preferível ignorá-la a ter de abrir mão do nosso prazer.
O mundo sente-se livre da responsabilidade pelos atos do ego. As religiões são, paradoxalmente, fonte de dois fenômenos psicológicos perturbadores: ou o fiel é religioso para sentir-se absolvido de seus atos, pois é só cumprir a ritualística que o perdão é concedido; ou busca a retidão e o alívio do sofrimento, na tentativa de purificar-se, e sente-se cada dia mais impuro, culpado e infeliz por não se encaixar no padrão de perfeição exigido pela religião.
Creio que todas as ideias aqui explicitadas já foram sabidas antes, aliás, estão entranhadas na nossa cultura e inconsciente. No entanto, por mais que esta verdade seja dita, jamais será capaz de vencer o ego e sua necessidade de prazer. Todos estamos culturalmente entregues aos desejos do ego.
Ainda que seja uma verdade inconveniente, ignorada, evitada, nunca é demais dizer uma verdade.
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Se quiseres falar comigo
Se quiseres falar comigo
sabes bem aonde estou.
Na rua nevoenta e fria
que eu percorro sozinha
com a noite a meu lado.
A todas as horas e dias
na ponte de transição
onde me encontro contigo.
Podes procurar-me até
(não estranhes o que te digo)
à mesa de um café
escrevendo versos
em que minto a toda a gente
(nem tu os percebes!)
com uma bica na frente
e um cigarro a arder
em fumaças breves.
Em qualquer estranha igreja
que atraia os passos teus
e eu loucamente esteja
a procurar Deus
e onde me vás encontrar
cada vez mais só.
Eu estarei aí
com um silêncio em meu redor
que nunca ninguém rasgou.
Aí me poderás falar.
Mas em casa não, amor,
em casa nunca estou.
Seria apenas vulgar.
Maria Do Carmo Abecassis
A existência
A existência
em si mesma
É a única questão
que tanto insisto em não interpretar
Um rosto que jamais vi
como um retrato do Profeta
que jamais foi pintado
Uma alma sem corpo
Desejos íntimos
Sonhos secretos
trancados na ante-sala da luz
No limiar da consciência que jamais tive
Onde estás
que não me ouves
Onde estás
que não me vês
Não sentes a minha angústia
de amarga solidão ? ´
Se é que algum dia exististe
Jorge Pereira