Para o Meu Coração...
 Para o meu coração basta o teu peito,      
para a tua liberdade as minhas asas.       
Da minha boca chegará até ao céu       
o que dormia sobre a tua alma.       
És em ti a ilusão de cada dia.       
Como o orvalho tu chegas às corolas.       
Minas o horizonte com a tua ausência.       
Eternamente em fuga como a onda.       
Eu disse que no vento ias cantando       
como os pinheiros e como os mastros.       
Como eles tu és alta e taciturna.       
E ficas logo triste, como uma viagem.       
Acolhedora como um velho caminho.      
Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.       
Eu acordei e às vezes emigram e fogem      
pássaros que dormiam na tua alma.       
Pablo Neruda
Foi um momento    
O em que pousaste    
Sobre o meu braço,     
Num movimento    
Mais de cansaço     
Que pensamento,     
A tua mão    
E a retiraste.     
Senti ou não ?     
Não sei. Mas lembro    
E sinto ainda     
Qualquer memória    
Fixa e corpórea     
Onde pousaste     
A mão que teve     
Qualquer sentido     
Incompreendido.    
Mas tão de leve !...     
Tudo isto é nada,     
Mas numa estrada     
Como é a vida     
Há muita coisa     
Incompreendida...     
Sei eu se quando     
A tua mão     
Senti pousando     
'Sobre o meu braço,     
E um pouco, um pouco,     
No coração,     
Não houve um ritmo     
Novo no espaço ?    
Como se tu,     
Sem o querer,    
Em mim tocasses     
Para dizer     
Qualquer mistério,     
Súbito e etéreo,     
Que nem soubesses     
Que tinha ser.     
Assim a brisa     
Nos ramos diz     
Sem o saber     
Uma imprecisa     
Coisa feliz.    
.     
Fernando Pessoa
Sem comentários:
Enviar um comentário