segunda-feira, 5 de julho de 2010

BRASILIA


 


simbolismos na nova capital - o que os monumentos de brasília escondem

 

 
© 2008 Karla Weber

Há 55 anos iniciavam-se as obras de um projeto ambicioso: transferir a capital brasileira mais uma vez. Depois de duas cidades litorâneas (Salvador e Rio de Janeiro), pretendia-se interiorizar o país, mas desta vez movendo a sede para uma cidade que ainda não existia.
Visando o desenvolvimento econômico da região juntamente com estratégias militares de defesa, o canteiro de obras batizado de Brasília surgia em meio ao planalto central e às árvores retorcidas do cerrado. A promessa de criar uma
metrópole em uma região desértica tirou a credibilidade do então presidenteJuscelino Kubitschek. Contrariando as expectativas dos mais céticos, em cinco anos Brasília foi inaugurada por um "louco".

Um concurso foi realizado, e a ideação urbanística de Lúcio Costafoi a escolhida. Baseada em um plano cartesiano, onde todos os endereços da cidade se desenvolvem de acordo com a sua lógica matemática, o chamado "plano piloto” abriga as ruas (ou vias), avenidas (ou eixos), parques, setores comerciais e superquadras, que, por sua vez, conteriam ou edifícios (ou blocos). A ausência de esquinas e a organização por números pode parecer complicada à primeira vista, mas já soa familiar a todos (ou quase todos) os habitantes. Os vãos livres e inserções de imensas áreas verdes entre as edificações fazem valer o conceito de “cidade-parque”.

Oscar Niemeyer é o mais famoso projetista dos monumentais edifícios públicos, comerciais e residenciais.Seus traços modernos consistem em formas à base de concreto armado que impressionam tanto pelo atrevimento curvilíneo quanto pela imponência. Assim como muita obra de arte, suas edificações às vezes são vistas como meros devaneios estéticos, mas carregam significados despercebidos por grande parte da população.

Para abrigar o que há de religioso em quase todo ser humano,
Niemeyer projetou um democrático centro ecumênico, mas, devido à maioria católica do país, a edificação acabou servindo como igreja, batizada como Catedral Metropolitana de Brasília Nossa Senhora Aparecida. Sua forma arredondada permite apreciação de qualquer ângulo e a entrada subterrânea não compromete a simetria do monumento. Seus pilares de concreto são fixados ao chão por um ponto mínimo, e se apoiam apenas na parte médio-superior, voltando a se convergir no alto. Um gesto de súplica e de comunicação com algo maior é criado naturalmente. Alguns arriscam até a dizer se tratar de uma representação abstrata de duas mãos em posição oratória. As paredes são vitrais abstratos da artista Marianne Peretti, que criam um jogo de luzes coloridas e dão a impressão de expandir ainda mais o espaço.

 

 

 

O famoso fundo de reportagens televisivas de cunho político consiste em duas torres de 28 pavimentos atrás de duas cúpulas. A convexa fica logo acima do plenário da Câmara dos Deputados e representa o contato direto com o povo, como se, virada para cima, fosse a veia de acesso do eleitor para com o governo. A côncava abriga o plenário do Senado e, virada para baixo, representa a centralização nos projetos que lhes foram enviados pela Câmara.
A intenção de Niemeyer ao fazer as torres formarem um grande “H” é que todos os ocupantes dos prédios públicos não se esqueçam das virtudes humanas.

A Ponte Juscelino Kubitschek – ou Ponte JK – foi a terceira construída sobre o Paranoá, um grande lago artificial idealizado tanto para fins paisagísticos quanto para amenizar a baixíssima umidade relativa do ar da região. Da água, surgem os três arcos assimétricos que impressionam quem cruza os 1200m de extensão. O arquiteto Alexandre Chandiz ter sido inspirado “pelo movimento de uma pedra quicando sobre o espelho d’água”. A construção ganhou vários prêmios de arquitetura ao redor do mundo, e ficou conhecida pelos habitantes da cidade como “a ponte mais bela do mundo”.

 

O Museu Nacional Honestino Guimarães possui 90 metros de diâmetro e 28 de altura. Seria uma cúpula pura, se não fosse a rampa curvilínea flutuante que permite a saída dos visitantes. Construído 40 anos após a inauguração da capital, é um dos projetos mais recentes de Niemeyer, que conseguiu criar uma estrutura imponente ao mesmo tempo que simples. A leveza da edificação não toma o lugar das obras espalhadas em seu vão. É arte abrigando arte.

 

 

 

A forma piramidal de base quadrangular do Teatro Nacional Claudio Santoro é inspirada na arquitetura asteca, mas rende muitas críticas e comparações com ostentações faraônicas. Não importa se asteca ou egípcia: em qualquer cultura uma pirâmide remete à veneração,e Niemeyer decidiu venerar a arte dramática. O exterior do tronco, revestido de cubos brancos, é a maior intervenção urbana do artista plástico Athos Bulcão. O interior reúne três salas de espetáculos e espaçosos foyers com rico paisagismo de Burle Marx.

A mais jovem cidade a se tornar patrimônio cultural da humanidade é resultado de muita ousadia, persistência e força de trabalho. Continuar como referência modernista arquitetônica, artística e cultural faz da cinquentenária capital uma obra de grandes visionários.

1 comentário:

Myriam Valentina Cruz disse...

Gostei do modo como descreveu a cidade. Ficou bonito.