sexta-feira, 21 de maio de 2010

A Árvore da Vida


A Árvore da Vida, de Gustav Klimt

Precisamos de metáforas para comunicar ideias complexas. A arte, a religião e a ciência sabem-no desde há milhares de anos. Círculos, pirâmides, árvores, espirais, teias. Tive a oportunidade de me dar conta duma mudança na linguagem (diriam os adeptos não sei de que escola filosófica: no paradigma!) durante o tempo da minha vida, que não é ainda assim tão longa. Ver esta mudança nas palavras faz-me sentir que vivemos uma época que vai deixar alguma marca, e entusiasma-me, tal como me entusiasmou e surpreendeu ver a queda do muro de Berlim e a libertação de Nelson Mandela, já lá vão 20 anos.
Voltando ao uso das imagens e partindo para um exemplo concreto: durante o meu tempo de escola, a metáfora mais usada era a da árvore. Havia a estrutura em árvore da linguística; havia a estrutura em árvore das chaves dicotómicas da biologia; havia a árvore dos organigramas das empresas; havia, e ainda há, os directórios dos computadores pessoais e dos primeiros portais de Internet. Mas quando se vulgariza e multiplica a internet, começa a tornar-se comum uma nova metáfora, que se tem vindo a manifestar, mesmo a nível da conversa popular, noutras áreas: a rede, ou a teia.

O primeiro esboço que Darwin fez da sua 'árvore da vida'
Gosto mais de teia, por ter uma ligação orgânica ao universo animal. Temos a rede/teia da world wide web; temos novos desenvolvimentos na biologia que tendem a flexibilizar a árvore da vida de Darwin para um modelo mais próximo da teia - no sentido em que não há um caminho único de A a B, e vários pontos se cruzam em vários nós, comunicando; temos as redes neuronais. Desconheço se a linguística já tem também um modelo que se assemelhe à teia para descrever o modo de funcionamento da linguagem.

Não se trata apenas de substituir uma palavra por outra, mas sim de substituir uma visão do mundo e da sua complexidade por outra. O modelo da árvore é tendencialmente mais hierarquizado, o que corresponde também a uma visão política e a uma forma de organização e relacionamento social. É possível que seja mais funcional, de um ponto de vista pragmático. O modelo da teia reconhece a dificuldade de fazer representar toda a complexidade de um sistema vivo - e a internet, sendo feita de linguagem, é também um sistema vivo - através de relações unívocas. Por isso mesmo, é também menos tranquilizante, porque não tem um princípio e um fim, e muitas vezes nem tem um centro.

Nuvem de tags
O que virá a seguir? Há dias pus-me a pensar no modelo das tags. Será uma outra versão da teia, ou uma nova metáfora: a da nuvem? Já temos, desde há décadas, as nuvens atómicas (as metáforas invadem diferentes áreas do conhecimento em épocas diferentes, e convivem). Se o modelo é o da nuvem, não é mais inquietante e mais solitário que a teia? Teremos de esperar que a ciência explore partículas ainda mais pequenas, na nossa tentativa de percebermos a estrutura do universo, para lhe pedirmos emprestada uma nova metáfora? Uma coisa é certa: não podemos estar atentos à natureza e mudanças do mundo sem estarmos atentos às palavras que usamos para o explicar.

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