Tenho uma memória bastante clara das aulas de Literatura que fiz ao longo da minha vida escolar, nelas, o poeta Olavo Bilac sempre foi fixado na minha imaginação como sendo aquele senhor polido, patriota, enfadonho e reaccionário. Daí o supreendente que foi, ao me inscrever e frequentar recentemente um curso universitário de Literatura Brasileira, descobrir que o tão proclamadamente apático poeta parnasiano, Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, autor do Hino à Bandeira Nacional, adorador de formas marmóreas e da sobriedade era, na verdade, um devasso.
O poeta tem peças dum erotismo tanto perverso, delirante, pornográfico, que certamente corava as professoras tão sóbrias que tive . Fiquei depois descobrindo que ficou famoso o papelucho deixado por Emílio de Menezes para epitáfio do amigo: "Bilac esta cova encerra. Choram sacros e profanos... Muitos anos coma a terra, a quem comeu tantos ânus!". Se eu houvesse sabido dessas façanhas antes... teria sido uma aluna mais diligente.    
"Delírio" ganhou para sempre o meu favoritismo. 
Satânia   
(...) 
Sobe... cinge-lhe a perna longamente;   
Sobe...- e que volta sensual descreve    
Para abranger todo o quadril!- prossegue,    
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,    
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios,    
Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo    
Da axila, acende-lhe o coral da boca,    
E antes de se ir perder na escura noite,    
Na densa noite dos cabelos negros,    
Pára confusa, a palpitar, diante    
Da luz mais bela dos seus grandes olhos. 
E aos mornos beijos, às carícias ternas,   
Da luz, cerrando levemente os cílios,    
Satânia os lábios úmidos encurva,    
E da boca na púrpura sangrenta    
Abre um curto sorriso de volúpia... 
Beijo Eterno   
Diz tua boca: "Vem!"    
"Inda mais!" diz a minha, a soluçar...Exclama    
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:    
"Morde também!"    
Ai! morde! que doce é a dor    
Que me entra as carnes, e as tortura!    
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,    
Morro por teu amor! 
Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!   
Beija-me assim!<    
O ouvido fecha ao rumor    
Do mundo, e beija-me, querida!    
Vive só para mim, só para a minha vida,    
Só para o meu amor! 
Delírio   
Nua, mas para o amor não cabe o pejo    
Na minha a sua boca eu comprimia.    
E, em frêmitos carnais, ela dizia:    
Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!    
Na inconsciência bruta do meu desejo    
Fremente, a minha boca obedecia,    
E os seus seios, tão rígidos mordia,    
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.    
Em suspiros de gozos infinitos    
Disse-me ela, ainda quase em grito:    
Mais abaixo, meu bem! ? num frenesi.    
No seu ventre pousei a minha boca,    
Mais abaixo, meu bem! ? disse ela, louca,    
Moralistas, perdoai! Obedeci… 
Última Página   
Primavera. Um sorriso aberto em tudo. Os ramos    
Numa palpitação de flores e de ninhos.    
Doirava o sol de outubro a areia dos caminhos    
(Lembras-te, Rosa?) e ao sol de outubro nos amamos. 
Verão. (Lembras-te Dulce?) À beira-mar, sozinhos,   
Tentou-nos o pecado: olhaste-me... e pecamos;    
E o outono desfolhava os roseirais vizinhos,    
Ó Laura, a vez primeira em que nos abraçamos... 
Veio o inverno. Porém, sentada em meus joelhos,   
Nua, presos aos meus os teus lábios vermelhos,    
(Lembras-te, Branca?) ardia a tua carne em flor... 
(...)
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