quarta-feira, 28 de abril de 2010



De todas as obras de Kafka esta é aquela em que mais nitidamente o autor consegue aliar o obscuro ao real. Caricatura do real? Talvez. Mas mais do que isso, é uma história que leva ao extremo a angustia de um homem perdido num mundo aparentemente irreal em que está inserido. A existência de Joseph K. transforma-se numa procura desesperada de conhecimento e compreensão da vida que alguém lhe destinou. Angustiante. Deprimente. Real.
Em O Processo estamos perante uma das mais comuns e significativas razões da angustia humana: a necessidade de conhecer e compreender; o desespero provocado pela ignorância, quando esta coabita com a necessidade do conhecimento. Mas este é apenas o ponto de partida!
O Processo retrata o desajuste entre o ser humano, entendido na sua dimensão individual, e um Estado totalitário, impessoal, que paira num universo desconhecido, longínquo…
Franz Kafka é o escritor do “absurdo”, como o tinha sido Dostoievsky, como seria Camus. Mas o absurdo de Kafka, ao contrário do filósofo francês, é um absurdo transcendental; reside na incomunicabilidade do homem com o homem, formando uma trama de relações pessoais sem sentido, impostas por circunstâncias alheias ao homem. Joseph K. não consegue chegar até à justiça, que, lentamente, se transforma numa entidade misteriosa e quase irreal. Joseph não compreende a justiça. Nem os homens, nem Deus. O absurdo está na ausência de compreensão mas ela deriva da ausência de comunicação. Daí o desespero, a solidão e o absurdo que cobre o mundo dos homens.
A culpa de Joseph é a sua existência; única resposta possível para a angustia do desconhecimento da acusação. É o culminar de uma espiral de desespero que revela uma visão dolorida da alma humana e, acima de tudo, da sociedade humana.

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